Notícias de Dubai. E muitas preciosidades nos detalhes abaixo.
Antes de começarmos.
Não falaremos do metrô nem de filas hoje. O alerta de aplicativos da UNFCCC de ontem ajudou. Acordamos mais cedo, então o metrô estava cheio, mas não lotado. E havia uma fila até longa, mas em movimento. Mais um dia agitado e quente. Um pouco mais úmido. Fora isso, conversando sobre carros com Danillo, consultor de negócios brasileiro radicado aqui em Dubai, percebemos que por aqui a faixa de preço de um Tesla elétrico, versão básica (AED 179.900) seria equivalente a um Toyota Camry top (AED 159.000). E cerca de metade do preço de um BMW 530i (AED 350.000), motor à combustão. Interessante.
O dia.
Iniciou com uma Conferência de Imprensa da Organização Mundial da Saúde. Esta COP28 foi a primeira a incluir questões de saúde na sua agenda climática. Como antecipamos ontem e informamos há alguns dias.
Aqui está o que ouvimos:
“O impacto das alterações climáticas na nossa saúde é catastrófico”
“Não temos 28 anos para a saúde esperar.”
“Transição dos combustíveis fósseis: também um grave problema de saúde.”
“Objetivo é salvar vidas.”
“Menos de 1% dos fundos climáticos vão para a saúde. Isso precisa ser multiplicado. Bastante."
De lá corremos para ouvir Al Gore, ambientalista e ex-vice-presidente dos Estados Unidos. “Al Gore and Climate TRACE Unveil Game-Changing Greenhouse Gas Emissions Inventory”.
Ele tinha uma surpresa para o final… “para um stocktake mais preciso e completo” (!!!). Transparência com informações gratuitas e de qualidade.
Que tal ver detalhes individuais de mais de 352 milhões de pontos de emissão de gases de efeito estufa em todo o mundo? Dados de diversas fontes abertas terrestres e espaciais, avaliados por dezenas de diferentes técnicas integradas. E Inteligência Artificial. Quer saber onde fica o campo de petróleo e gás com maior emissão do mundo? Ou a fábrica de cimento com maior emissão? Aeroporto? Fonte de fermentação entérica? Tubulações vazando? (nota: estas informações parecem já estar em uso por algumas empresas, para reavaliações de fornecedores, visando susbtituição).
Você acreditaria que na Indonésia as emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal diminuíram 56% e 87%, respectivamente, entre 2015 e 2022? E que no Congo também houve reduções, 7% e 19% respectivamente.
A ferramenta também “ajusta os dados oficiais à realidade”. Os aterros sanotários oficiais no México são responsáveis por 55 milhões de toneladas de CO2e. A realidade (por exemplo, adicionando “aterros ilegais”) mais do que duplica esse número para 116 milhões. Também Estados Unidos. Existem 8.659 EPAs registrados (ponto de liberação de contaminantes do ar na atmosfera externa) enquanto o número real é mais de 6.000 vezes maior… mais de 54 milhões de EPAs (!!!).
Ok, ok – entusiasmado – estou antecipando o "gran finale" do Al Gore.
Antes disso ele mostrou slides elaborados, estruturando sequencialmente o que a maioria de nós já sabe. E também adicionando novas perspectivas:
Novembro de 2023 foi o novembro mais quente já registrado. Como os últimos 10 anos, continuamente.
2023, pela primeira vez desde que se regista, tempestades atingiram a intensidade da categoria 5 em todas as bacias oceânicas tropicais no mesmo ano.
Energia liberada pela poluição provocada pelo aquecimento global “equivalente à explosão de 50.000 bombas atômicas da classe Hiroshina por dia, 365 dias por ano” (James Hansen da NASA)
“no futuro… algumas regiões inabitáveis, o que certamente se refletirá em pressão para migrar” (Jos Lelieveld do Instituto Max Planck)
Os incêndios florestais estão diminuindo nos trópicos, mas permanecem elevados e aumentando nos países do norte. Em 2022, os EUA, o Canadá e a Rússia registaram taxas mais elevadas de incêndios florestais (dados Climate TRACE)
Então, de acordo com Al Gore:
se 71 nações não apresentaram dados sobre emissões para nenhum dos anos abrangidos pelo inventário
se 108 nações não apresentaram inventários de emissões em nenhum dos últimos cinco anos
e nenhuma nação apresentou ainda um inventário de emissões para 2022…
No problem. A partir de hoje a Climate TRACE Coalition está compartilhando todos esses dados:
um balanço completo das emissões de todos os 241 países e regiões.
registro histórico a cada ano 2015-2022.
segmentação detalhada por 53 setores, incluindo os 352 milhões de ativos individuais acima mencionados.
metadados incluindo tipo de instalação, propriedade, capacidade de produção, intensidade de emissões, nível de atividade e graus de incerteza.
fácil de usar, pesquisar, comparar, agregar e analisar. Por especialistas (que gostam até da API JSAON), mas também por pessoas como nós, não especialistas. Entusiastas preocupados.
Tome nota:
Todos os relatos mundias pelas empresas somam apenas 14% das emissões globais (!!!!!). Você chamaria isso de Greenwashing Armagedom?
Antes de concluir, perguntou se a reciclagem do plástico resolveria o problema, lembrando que a principal matéria-prima da indústria petroquímica .... é o petróleo. Depois foi veemente, como António Guterrez, Secretário Geral da ONU: “Parem de queimar combustíveis fósseis. Não reduzir, não diminuir. Acabar".
Uau!
Pudemos então assistir ao What’s in the Watershed? , moderado pelo Dr. Christopher Puttock, gerente do programa Rotary COP28, e entre os palestrantes, o prefeito Mitch Reynolds, de Lacrosse, WI, discorrendo sobre a Mississippi River Cities and Towns Initiative (MRCTI), uma aliança de prefeitos ao longo do rio. Independentemente de partido político. “Em última análise, o trabalho do MRCTI ajuda a proteger e restaurar o Rio Mississippi como um sistema natural que pode apoiar a cultura e as economias humanas, bem como o ecossistema e a vida selvagem únicos do Rio.” Dê uma olhada aqui.
Depois fomos para a Green Zone, o fabuloso Pavilhão do Abu Dhabi Global Market (ADGM) para o painel “VCM as a Catalyst for Net Zero”, com William Pazos (CEO ACX), Carlos de Mathias Martins Junior (EQAO & Ecoinvest Brasil ) e Vishwajit Dahanukar (ENVEX).
Para aquecer o debate. Aditya Sapru (ACX) divulgou os resultados de uma pesquisa com clientes (que gostaríamos de compartilhar numa postagem separada de Carbon Credit Markets). Algumas citações:
A curva de aprendizado da negociação de créditos de carbono, um enorme potencial nos mercados emergentes, com o Brasil forte no lado da oferta.
“A beleza dos mercados de carbono é que eles direcionam recursos para ações ecologicamente corretas e favoráveis ao clima”
“Quando você compra créditos de carbono você compra reputação”.
“Apesar dos esforços de integridade, sempre haverá riscos. Como o principal risco é a reputação, os governos deveriam intervir.”
Exemplo de Singapura: você pode pagar impostos parcialmente com créditos de carbono. (responsabilidade agravada).
O CBAM (seu escrutínio) representa uma oportunidade.
Dubai: definiu créditos de carbono de forma muito inteligente: “instrumento ambiental”. (lembre de nosso post)
- Sobre a COP28, grandes expectativas em relação ao modelo do Artigo 6.
No final do painel, o CEO da ACX revelou detalhes e modus operandi do Carbon Project Exchange for Future Carbon Tonnes (FCT). A intenção é criar um mercado secundário para os FCT num mercado regulado. Como Corinne Boone, também da ACX postou no LinkedIn após a apresentação, “Muito bem, ACX!! Inovação muito necessária no mercado de carbono!!”.
Créditos de (Bio)Metano. Talvez seja o título simplificado para outro painel que participamos na sequência “Integrated Waste Management Solutions as Instruments to keep the 1,5oC”, com os seguintes painelistas: Milton Pilão (Grupo Orizon), Carlos Silva Filho (International Solida Waste Association, ISWA) , María Teresa Ruiz-Tagle V. (CLG-Chile), Lucas Ferraz (Brasil, Secretário de Assuntos Internacionais do Estado de São Paulo) e Jiao Tang (Catalytic Finance).
Basicamente, o grande case do Grupo Orizon - dê uma olhada no site deles https://orizonvr.com.br/en/ - que, numa parceria com a ISWA e o Global Methane Hub (GMH), decidiu “vencer a crise tripla” com uma “iniciativa triplo M”. O que isso significa ???
- Crise tripla: alterações climáticas, poluição, perda de biodiversidade
- Iniciativa Triple M: Mecanismo de Mitigação de Metano (gestão de resíduos).
A intenção é validar o atributo ambiental do setor de resíduos para um crédito de metano, mapeando riscos e oportunidades na relação público-privada, atraindo mais financiamento e, em última instância, estabelecendo seu próprio esquema de preços e estabilidade, de natureza diferente dos créditos de carbono.
O Grupo Orizon já gera 3 milhões de toneladas de créditos de carbono/ano, vendidos em torno de US$ 5, considerados subvalorizados. Segundo Pilão, “os esforços envolvidos num país em desenvolvimento são maiores do que, por ex. Europa ou Estados Unidos.”
Para encerrar, a Sra. Jiao Tang acrescentou: “Pretendemos estabelecer um Fundo de Resíduos. Ainda não temos um mercado de metano. Abordagem de base de impacto. A taxonomia é extremamente importante”.
Hora de sair, já está escuro lá fora. Mas antes disso - dada a combinação terno - calor úmido de hoje - talvez passar 5 minutos dentro do “Plenário - Al Hairat" onde o ar condicionado é muito forte (e fica perto da saída principal). Adivinha? Lá pudemos assistir aos momentos finais da “1st Annual High-Level Ministerial Roundtable on Just Transition”, com o resumo das discussões e comentários finais de H.E. Majid Al Suwaidi, Diretor Geral e Representante Especial da COP28. Tópicos?
Quais são as prioridades e ações críticas de transição justa a nível nacional para catalisar uma transição de sistemas até 2030 para manter os objetivos do Acordo de Paris, incluindo o objetivo de 1,5 °C, dentro do alcance?
Quais são as soluções, barreiras e oportunidades viáveis para abordar as dimensões energética, socioeconômica, laboral e outras dimensões da transição justa?
Como podemos trabalhar no programa de transição justa no âmbito do Acordo de Paris, apoiar medidas políticas para promover/permitir a cooperação económica internacional, incluindo o comércio, para enfrentar os desafios de implementação e ampliar as oportunidades das transições para que possa ser ambiciosa, eficaz e não deixar um atrás?
Cada país comenta. Um processo muito longo de construção de consenso.
Hora de ir. Mas ainda assim, encontramos um dinossauro, “um futuro fóssil”.
).
Antes de encerrarmos o dia.
Por diversos motivos, infelizmente perdemos os seguintes eventos hoje:
- “Connecting the dots from the hydrogen economy”. Discutir a necessidade de (1) criar demanda e aumentar a produção (2) uma norma reconhecida internacionalmente para enfrentar as barreiras comerciais, (3) superar os desafios da construção de infra-estruturas vitais ao longo da cadeia de abastecimento de hidrogênio. Uma pena coincidir com outro.
- Créditos de biodiversidade. “En passant” pela IETA International Emissions Trading Association hoje, chamou nossa atenção para alguém em um painel mencionando “créditos de biodiversidade”. Não tivemos tempo de ficar, mas anotamos o nome do painel “Catalyzing Nature-Positive Action through Biodiversity Credits” e entidades participantes: Cercarbono https://www.cercarbono.com e Environmental Markets Fairness Foundation https://www. efairmarkets.earth
- Os líderes religiosos mundiais reuniram-se para assinalar a inauguração do primeiro Faith Pavilion na COP28.
Pessoas e paparazzi
O dia começou com Becky Anderson sentada ao nosso lado, juntando-se depois a Bill Gates numa fila (VIP). Ela é âncora de notícias da CNN International.
Our key takeaways
“O impacto das alterações climáticas na nossa saúde é catastrófico”
“Com o Climate TRACE, se você ainda pensa que pode despejar toneladas de poluição na atmosfera sem que ninguém saiba, você não tem mais aonda se esconder”.
“Quando você compra créditos de carbono você compra reputação”.
Vencer a tripla crise – alterações climáticas, poluição, perda de biodiversidade – com uma “iniciativa triplo M”: Mecanismo de Mitigação do Metano. Créditos de metano.
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