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IETA Edição Extra. Citações e Destaques Latin America Climate Summit e 2 Relatórios sobre os Mercados de Carbono na Região.

  • Art Dam
  • 30 de ago.
  • 9 min de leitura

Atualizado: 2 de set.

Sábado, 30 de agosto de 2025.


Na última semana, entre os dias 26 e 28, a International Emissions Trading Association (IETA) realizou em São Paulo, Brasil, seu Latin America Climate Summit 2025 


Além de diversos painéis e intenso networking com uma significativa audiência de representantes de diversos países de toda América Latina, o evento também marcou o lançamento de dois novo documentos:


  • Carbon Market Frameworks for Brazil (com versões em inglês e português)

  • Recommendations do Strengthen Carbon Markets in Latin America and the Caribbean (versão em espanhol espanhol disponível em breve)


Carbon Credit Markets foi convidado para o evento e elabora a seguir alguns tópicos de destaque. Trataremos inicialmente do novo documento para em seguida tratar de alguns painéis. Conteúdo imperdível, com citações que só mesmo quem esteve lá de forma atenta pode trazer para você.



Carbon Market Frameworks for Brazil


O documento da IETA destaca que o Brasil vive um momento estratégico para estruturar seu mercado de carbono, impulsionado por avanços como o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), a Taxonomia Sustentável Brasileira e a meta climática (NDC) de reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2035 em relação a 2005 — o que equivale a 850 a 1.050 milhões tCO₂e


O perfil de emissões do país é singular: enquanto quase 90% da matriz elétrica já é renovável, cerca de 40% de mudanças no uso da terra. Isso reflete a relativa recente história do país, desde que começou a ser colonizado pelos portugueses há pouco mais de 500 anos, além de estar seguindo caminho diferente de outros países igualmente “jovens”, como os Estados Unidos


O Brasil tem intensidade de carbono de 0,15 kgCO₂/USD de PIB, abaixo da média global (0,29), mas enfrenta riscos com mecanismos como o CBAM europeu, que pode gerar perdas de até US$ 444,3 milhões nas exportações e queda de 1,49% no PIB.


A IETA sugere que para cumprir a NDC, conter o desmatamento ilegal até 2030 e restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa, o Brasil deve integrar o SBCE, o mercado voluntário (VCM) e o Artigo 6 do Acordo de Paris. O documento propõe três caminhos: usar o SBCE como selo de integridade para o VCM; aplicar o Artigo 6 para descarbonizar setores hard-to-abate; e direcionar o Artigo 6 para soluções baseadas na natureza, reinvestindo receitas em restauração e combate ao desmatamento.


O texto também aponta que, globalmente, 38 sistemas de precificação de carbono estavam ativos em 2025, gerando cerca de US$ 70 bilhões em 2024, e que a demanda acumulada por ITMOs pode chegar a 685 MtCO₂e até 2030, embora apenas pouco mais de 11 mil tenham sido emitidos até junho de 2025. 


Baixe o relatório da IETA, aqui na versão em português e aqui em inglês.




Recommendations do Strengthen Carbon Markets in Latin America and the Caribbean


O documento mostra que a América Latina e o Caribe (ALC) têm hoje 16 instrumentos de precificação de carbono (CPIs) operacionais e 7 em desenvolvimento, sendo 18 impostos sobre carbono e 5 sistemas de comércio de emissões (ETS), com 13 permitindo o uso de créditos como mecanismo de flexibilidade. 


Além disso, 8 países já possuem regulações para o mercado voluntário (VCM) e programas voluntários de medição de GEE, e 12 países avançaram em regulações ou acordos bilaterais para transações sob o Artigo 6 do Acordo de Paris. A região responde por 20% dos CPIs operacionais no mundo, gera 23% das aposentadorias globais de créditos de carbono e 24% das emissões de créditos, atraindo US$ 1,5 bilhão em investimentos para projetos de carbono em 2023 — liderados por México (26%), Brasil (24%), Colômbia (20%) e Peru (6%). 


Apesar de representar apenas 8% das emissões globais, a ALC é a segunda maior receptora de investimentos para projetos de carbono, atrás apenas do Sudeste Asiático.


O texto também destaca que a região possui 8 registros operacionais e 9 previstos em lei, mas ainda não implementados, essenciais para garantir integridade, rastreabilidade e evitar dupla contagem. Apenas 6 países (Belize, Brasil, Cuba, Equador, Santa Lúcia e Uruguai) já apresentaram suas novas NDC 3.0, e dois (Guiana e Suriname) submeteram relatórios iniciais sob o Artigo 6, com os créditos da Guiana elegíveis para o CORSIA. Leia também “Atualizações das NDCs: seu país já entregou?”.


O documento recomenda harmonizar CPIs para reduzir custos e aumentar a confiança do mercado, adotar padrões internacionais de integridade (como PACM, ICROA, ICVCM e CORSIA), fortalecer a governança público-privada e garantir segurança jurídica para atrair investimentos. Também sugere que parte das receitas de CPIs seja destinada à operação e manutenção dos sistemas, como no caso do Brasil, que destina 15% da receita do ETS para esse fim.


Abaixo o relatório.




Latin America Climate Summit 2025



Artigo 6º, em suma, incipiente na região


Esse o destaque de Martin Rabbia (RCC Caribbean) no painel Around the World of Carbon Markets in 60 Minutes, apesar acrescentar a existência de 17 acordos bilaterais, 22 países com Autoridades Nacionais Designadas e destacar o potencial do carbono azul


No mesmo Workshop 1, Lucien Georgeson (MSCI) ressaltou a pressão crescente por créditos de carbono com integridade e rastreabilidade, enquanto Xana Maunze (Belgian Agency for International Cooperation) alertou para a proliferação de projetos de baixa qualidade e a necessidade de fortalecer os desenvolvedores. Iule Arruda (Louis Dreyfus Company) mostrou que o financiamento de carbono pode transformar o agronegócio, integrando compensação e inserção direta para agregar valor e sustentabilidade. Já Oriana Ballesteros (EcoAct/Schneider Electric) defendeu o escalonamento de projetos e investimentos em regulação e capacitação, especialmente na África, que começa a atrair capital — reforçando que o futuro do mercado dependerá de equilibrar escala com integridade e inovação com inclusão.


Workshop 1 - Around the World of Carbon Markets in 60 Minutes
Workshop 1 - Around the World of Carbon Markets in 60 Minutes


O jurisdicional é o coração da integridade dos créditos voluntários brasileiros … parte das soluções dos problemas sairá do relacionamento dos reguladores envolvidos”.


Comentou Ludovino Lopes (UniDroit) no painel Global Rules, Local Realities: Legal Challenges for Carbon Markets in Latin America & The Caribbean. Ludivino também apresentou o projeto global para definir a natureza jurídica dos créditos verificados / voluntários e criar princípios legais uniformes. Em cooperação com Banco Mundial, UNCITRAL e Conferência de Haia, a entrega final está prevista para daqui há 9 meses.


No mesmo Workshop 2, Renata Amaral (Trench Rossi Watanabe) alertou para incertezas críticas sobre a propriedade e integridade dos créditos de carbono, conflitos fundiários e minerários no Brasil e a competição entre créditos voluntários e ITMOs mais caros, além da necessidade de consentimento de comunidades indígenas. Luiz Gustavo Bezerra (Mayer Brown) celebrou o início da política pública de precificação de carbono no país e defendeu a harmonização com o mercado voluntário, prevendo a criação de um órgão regulador nacional. Juan Pedro Cano (Mesa Argentina del Carbono) relatou a articulação de mais de 50 membros para aprovar uma lei nacional, enfrentando desafios semelhantes aos do Brasil. Ricardo Lopes (Verifit) destacou o exemplo da Colômbia, que combina imposto de carbono com offsets e exigia registro local de certificadoras internacionais.


Workshop 2 - Global Rules, Local Realities Legal Challenges for Carbon Markets in Latin America & The Caribbean
Workshop 2 - Global Rules, Local Realities Legal Challenges for Carbon Markets in Latin America & The Caribbean


A quantidade de standards <para créditos de carbono> representa desafio aos auditores. As tabelas de cálculo não são claras e nem evidentes, às vezes nem publicados pelos registros. Para não falar nos co-benefícios, para onde está indo o dinheiro”.


Foram comentários da experiente Geisa Príncipe (EcoLance) no Workshop 3 – Carbon Accounting Roundtable. Acrescentou que, mesmo com avanços como satélites e blockchain, a transparência ainda é limitada e a titularidade da terra segue crítica em projetos como REDD+. 


No mesmo workshop, Katie Sullivan (IETA) destacou que, em 20 anos, a contabilidade de carbono evoluiu para um mosaico de padrões — de IPCC e GHG Protocol a IFRS S2 — refletindo propósitos regulatórios, voluntários e setoriais, enquanto o Catavento/CEBRI alertou que a falta de padronização global exige interoperabilidade e recomendou à COP30 definir um objetivo claro, aprimorar regras globais e criar um painel técnico especializado. Magnus Chaib (KPMG Brasil) comparou a chegada da contabilidade regulatória de carbono à trajetória dos IFRS e citou o OCPC10 como passo rumo à convergência internacional. Carlos Cordova (S&P Global) resumiu os três pilares da área — frameworks, registros e políticas públicas — e Marina Pittella (Itamaraty) revelou que o Brasil articula contabilização de combustíveis renováveis e integração com CORSIA e navegação marítima, com a COP30 estruturada em quatro frentes, incluindo o Artigo 6 e instrumentos catalisadores, como os créditos de carbono.


Workshop 3 – Carbon Accounting Roundtable
Workshop 3 – Carbon Accounting Roundtable


A raiz da árvore é muito maior que a copa. Não é de nós para eles, é deles para eles. Não existe autonomia de fato sem autonomia econômica.


Assim posicionou-se Monique Vanni no Workshop 4 Latin America Climate Summit Media Training, após relatar o pioneirismo em projetos de conservação e REDD+, consultas públicas massivas - 700 pessoas no Brasil, 1 milhão na Índia - e a filosofia da Wildlife Works Carbon, que apesar da sede corporativa principal na Califórnia, nos Estados Unidos, tem presença destacada no Quênia, Indonésia, Colômbia, Brasil, India e Reino Unido.


No mesmo workshop, Eduardo Ferreira (Banco Mundial) destacou que já existem 80 mecanismos de precificação de carbono no mundo, cobrindo 28% das emissões globais até 2025 e mobilizando US$ 102 bilhões em receitas públicas em 2023, com o preço médio quase dobrando na última década (US$ 10 → US$ 19/tCO₂e). Na América Latina, há 1 ETS implementado, 5 impostos sobre carbono e outros 5 ETS em desenvolvimento, com US$ 9 bilhões em investimentos previstos e liderança de soluções baseadas na natureza. Em 2024, as aposentadorias de créditos para fins regulatórios saltaram para 24% (vs. 9% em 2023), mas o mercado acumula uma sobra de quase 1 bilhão de créditos não aposentados, dois terços emitidos antes de 2022. Apesar da leve queda geral nos preços, créditos OTC de remoção natural mantiveram prêmio, chegando a US$ 10,4/tCO₂e para florestas e uso da terra.


Mateo Estrada (OPIAC) trouxe a realidade socioeconômica da Colômbia, marcada por desafios que afetam diretamente comunidades locais e indígenas, enquanto Caio Gallego (Ambipar) apresentou soluções baseadas na natureza como ARR, ALM, REDD+, Blue Carbon e Biochar, detalhando o ciclo completo de um projeto — do investimento à certificação e comercialização — e princípios como adicionalidade, contabilidade conservadora, MRV confiável, permanência e salvaguardas. 


Remo Filleti (ICVCM) anunciou que todos os principais programas de crédito de carbono já são CCP-Eligible, com metodologias aprovadas como ARR, REDD+, Biochar e cookstoves eficientes, reforçando a exigência do “two-tick” para garantir integridade. Apresentou também estrutura de governança do ICVCM, com presença significativa de membros dos Estados Unidos (7 representantes) e Europa Ocidental (Reino Unido 2, Itália, Alemanha, Irlanda, Portugal) — além de contar com vozes da Ásia (Paquistão, Índia, Filipinas), Oceania (Austrália) e da América Latina (Brasil).


Workshop 4 – Latin America Climate Summit Media Training
Workshop 4 – Latin America Climate Summit Media Training


Diversos outros painéis trouxeram insights valiosíssimos. Concluímos abaixo com mais algumas referências compartilhadas e citações que ouvimos.



Mercado de carbono foi atacado pela falta de compliance. E isso precisa mudar. Queremos que a região seja exemplar. Trazer o país para o centro do mundo hoje como uma referência tropical”, Paulo Protasio, Fellow IETA



Condições do Article 6.4 correm o risco de empurrar todas as florestas para fora do processo. Não há ingênuos nesse processo. Toda questão pública deve ser discutida de forma transversal” , Marcello Britto, Executive Director Consortium of Amazon States.



Créditos de carbono, de fato a forma mais inteligente de fazer movimentações de recursos. Brasil maior potencial do mundo. Mas o caminho não é simples, como já comentou o Marcelo Britto”. Comunidade financeira animada com o TFFF. Brasil dará contribuição proporcional à sua relevância econômica.Dan Ioschpe, High-Level Champion for COP30, High-Level Climate Champions



O mercado regulado não veio para matar o mercado voluntário e devem ser estimulados nos setores não reguladosKlenize Favero, Carbon Markets Coordinator, Ministry of Environment and Climate Change Brazil. Também comentou sobre a regulamentação da venda de ITMOs, consulta pública antes da COP e o desafio de analisar cerca de 95 projetos MDL até 31 de dezembro de 2025, de forma a migrarem para o novo mecanismo do Artigo 6.4 e continuar gerando créditos de carbono válidos.



A regulamentação do Combustível do Futuro brasileira é a melhor do mundoRicardo Dupont, Technical Coordinator Environmental Protection, ANAC Brasil



Alessandro Bender, Coordenador da Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas (SECLIMA) da cidade de São Paulo, comentou sobre desafios como as 18 mil toneladas de resíduos diários, mudanças comportamentais e problemas crônicos em bairros específicos. Por exemplo o Brás, que gera mensalmente volumes de resíduos têxteis comparáveis aos do Atacama no Chile, ou o o centro da cidade, que tem ruas varridas até 10 vezes por dia e o Jardim Pantanal, enfrenta problemas recorrentes de enchentes. Também comentou sobre eventos Pré-COP como vitrine de soluções urbanas, novas tecnologias e benchmarks globais para cidades onde vive 80% da população brasileira. E fez referência ao Plano de Ação Climática do Município de São Paulo, PlanClima SP.



Joana Schmidt Artes, Gerente de Projetos do Governo do Estado de São Paulo, compartilhou ótimas referências:



O resto do mundo precisa do que o Brasil tem a oferecer”, David Hone, Chief Climate Change Adviser da Shell, ao apresentar os seguintes materiais imperdíveis no Workshop 5 – The 2025 Energy Security Scenarios: Brazil Leading the World to Net-Zero Emissions:





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