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Edição extra. Sobre o último dia da Argus Latin America Carbon Conference 2025.

  • Art Dam
  • 25 de jun.
  • 9 min de leitura

Quarta-feira, 25 de junho de 2025.


No segundo e último dia da conferência, coube a Lucas Boacnin, Business Development Manager da Argus dar as boas-vindas aos participantes e conduzir a sessão de abertura.




No painel “Buyers Keynote Panel – How are industries decarbonising their supply chains in the build-up to COP30?”, moderado por Lisa Lieberbaum, representantes da Vale e da Ambev compartilharam suas estratégias de descarbonização e preparação para a COP30, com ênfase no uso de créditos de carbono e engajamento da cadeia de valor.


Renan Marçal, da Vale, destacou o uso de Soluções Baseadas na Natureza (NBS), especialmente para emissões de escopo 3 — que representam 98% das emissões da empresa. Aproximadamente 15 a 20% da descarbonização dependerá de créditos de carbono. A Vale já adquiriu créditos no Pará e está atenta às exigências do mercado europeu. Sobre o pioneiro relatório recém-publicado, conforme antecipamos em 1 de junho p.p., comentou que a gap analysis objetivando aderência ao IFRS S2 iniciou-se há dois anos.



Luiz Gustavo Talarico, da Ambev, explicou que a empresa planeja cobrir 10% de sua descarbonização com créditos e já utilizou 30 mil unidades. Está focada em engajar fornecedores estratégicos (30 representam 40% das emissões de escopo 3) e vem buscando alinhar-se a normas como IFRS e CSRD. A integridade dos créditos e a robustez dos sistemas de MRV foram ressaltadas como pontos críticos.


Ambos os representantes defenderam o avanço da interoperabilidade entre mercados voluntários e regulados, e esperam que a COP30 promova soluções colaborativas e ambição climática robusta.


Nas perguntas do público, surgiram temas como CBAM, estratégias com créditos de NBS e regulação brasileira. Ambos demonstraram preparo para o cenário internacional e disposição para contribuir ativamente com um mercado de carbono nacional de qualidade.




O painel “Banking and Financing Carbon Markets” reuniu especialistas para discutir o papel do setor financeiro no avanço da descarbonização por meio de créditos de carbono. Sob moderação de Victor Uchoa (Argus), a conversa apontou caminhos para a viabilização de investimentos climáticos em escala — ressaltando a necessidade urgente de grandes volumes de capital e o papel dos marcos regulatórios para atrair confiança e liquidez.


Marina Albuquerque, do BTG Pactual, compartilhou uma perspectiva prática sobre a evolução do investimento sustentável. Segundo ela, o interesse de family offices por produtos com viés ESG foi o ponto de partida para o engajamento do banco no tema — hoje, trata-se de uma frente estruturada de negócios. Ela também alertou para desafios no financiamento de projetos ligados à terra, especialmente no que diz respeito à segurança fundiária.


Marco Fujihara, da Aggrego, focou na criação de instrumentos financeiros inovadores voltados ao setor privado. Enfatizou os múltiplos riscos envolvidos — regulatórios, jurídicos, de integridade e até soberanos — que precisam ser bem compreendidos para garantir retorno e viabilidade de projetos de carbono. Ele citou o exemplo do agro brasileiro, que vem se reinventando com práticas regenerativas, e alertou que projetos baseados na natureza (NBS) carregam riscos de integridade que devem ser mitigados com governança clara.


Ana Luci Guizzi, da ALG Consulting, trouxe uma abordagem jurídica e regulatória ao debate. Com base em sua atuação como autora e especialista no tema, ressaltou que o financiamento climático depende da integração entre o marco legal nacional, os compromissos climáticos internacionais (como a NDC brasileira) e a atuação estratégica de entes como Banco Central, CVM, SUSEP e PREVIC. Destacou que o Plano Nacional de Alocação será peça-chave na governança climática e que o engajamento do sistema financeiro é essencial para dar escala às soluções. Em resposta às perguntas do público, abordou a insegurança jurídica que ainda cerca os créditos de carbono em transações internacionais — tema de forte interesse do setor bancário e sob análise da CVM — e comentou que a futura regulação brasileira pode permitir o uso de créditos para compensação em torno de 5 a 10%, mas com critérios ainda em definição.


Todos os painelistas concordaram que a COP30 será determinante para reposicionar o Brasil no centro das finanças climáticas globais, mas alertaram: investimentos de longo prazo exigem clareza, integridade e compromisso institucional contínuo — não soluções pontuais.




No painel “How can emissions and avoidance in the agriculture sector create new credit opportunities”, com moderação de Iule Roberto Pais de Arruda (Louis Dreyfus Company), especialistas debateram o potencial da agricultura como geradora e negociadora de créditos de carbono, ressaltando a importância de governança transparente e integridade nas metodologias.


Sobre a Louis Dreyfus Company, destacou-se seu papel como fornecedora de soluções sustentáveis para a América Latina, integrando produtos, logística e instrumentos financeiros — como créditos de carbono e bioenergia — em diversas cadeias produtivas. Apresentou o potencial da agricultura na geração de até US$ 13,7 bilhões por ano com “carbon farming” até 2050, mas alertou sobre a necessidade de escalar esses mercados com integridade, embasamento científico e regras claras. A mensagem central foi que o setor agrícola pode ser um vetor estratégico de descarbonização, desde que os benefícios sejam distribuídos de forma justa e as estruturas regulatórias deem segurança aos investidores.


Mario Melo (Citrosuco) destacou o papel da empresa como líder global na cadeia de suco de laranja, com operações integradas que incluem produção agrícola, processamento industrial e logística internacional. Enfatizou o compromisso da Citrosuco com sustentabilidade, evidenciado por certificações, alto desempenho em ratings ESG e metas concretas de descarbonização — já reduzindo 18% de emissões desde 2019 e mirando 28% até 2030. Além disso, apresentou duas iniciativas de Soluções Baseadas na Natureza (NBS) para geração de créditos de carbono: o PSA Carbon Agro, focado em manejo sustentável e preservação florestal, e o Carbon Soil, baseado na regeneração de áreas degradadas. Ambos os projetos estão programados para iniciar emissões de créditos entre 2025 e 2028.


Carlos Messias (MyCarbon) destacou o papel da empresa como uma plataforma de geração e comercialização de créditos de carbono baseada na natureza, com atuação na América do Sul. A empresa desenvolve projetos com foco em práticas regenerativas e benefícios socioambientais, aproveitando a estrutura da Minerva Foods para escalar soluções no hemisfério sul. Apresentou três iniciativas em destaque: o projeto Regenerative Livestock, voltado à remoção de carbono por meio da pecuária regenerativa; o projeto BRA – 3C, com foco em culturas como grãos e cacau; e o projeto Tauari Forest Conservation, em parceria com a UNICEF, voltado à conservação florestal com impacto social direto na Amazônia.


Durante sua apresentação, Mathias Becker (Systemiq) destacou que a descarbonização global exige uma abordagem sistêmica, circular e fundamentada na ciência. Becker apresentou cenários comparativos mostrando que modelos circulares podem reduzir significativamente a demanda por carbono, e que o reaproveitamento de CO₂ ainda será limitado até 2050, exigindo investimento em tecnologias de captura e armazenamento. Também comparou rotas tecnológicas como biocombustíveis avançados com BECCS e biochar — que oferecem alto potencial de remoção de carbono — com a energia solar, que, embora eficiente em geração energética, exige complementação para sequestrar CO₂. A mensagem central foi clara: não basta descarbonizar a matriz energética, é preciso reimaginar o uso do carbono na economia, promovendo inovação, integridade e escala.


Nas considerações finais, Mario Melo destacou a importância de metodologias de créditos de carbono adaptadas às especificidades locais, mencionando o trabalho iniciado em 2023 com a Reservas Votorantim (Legado das Águas) e a ECCON — inicialmente voltado à Mata Atlântica e, mais recentemente, expandido para investigar o potencial da agricultura perene. Já Carlos Messias enfatizou que, para avançar na agenda de emissões agrícolas, é fundamental compreender a mentalidade e realidade dos produtores rurais, garantindo que as soluções estejam alinhadas às suas motivações e capacidades.




O painel moderado por Erisa Senerdem (Argus), “Biochar as carbon removal method: How do you choose a carbon removal technology?” abordou os critérios que orientam a escolha de tecnologias de remoção de carbono, como o biochar, considerando fatores como custo, permanência, co-benefícios ambientais e viabilidade de escala. Também foram discutidos os potenciais impactos dessas escolhas sobre o mercado voluntário de carbono (VCM).


Lia Mara Iost Leitão (Raízen) destacou o etanol de segunda geração (E2G) como diferencial tecnológico — uma solução de baixa emissão, escalável e produzida a partir do bagaço de cana — além de apresentar a biomassa como vetor estratégico na descarbonização por seu potencial energético, capacidade de sequestro de carbono e aplicação em tecnologias como o BECCS. Lia também ressaltou o papel do Brasil, com sua matriz energética diversificada e regionalizada, e chamou atenção para os gargalos estruturais que ainda limitam o uso sustentável da biomassa: ausência de políticas públicas, desafios logísticos, lacunas de conhecimento e a necessidade de investimentos de longo prazo.


Benone Braga (Aperam BioEnergia) destacou a trajetória e o papel estratégico da empresa na produção de energia renovável a partir de biomassa, com ênfase no projeto de remoção de carbono via biochar. Com mais de 150 mil hectares de florestas sob manejo certificado, capacidade anual de 450 mil toneladas de carvão vegetal e 30 mil toneladas de biochar, a Aperam combina inovação tecnológica (mais de 45 patentes), impacto social e governança ambiental. O projeto de biochar, certificado pela Puro.earth  desde 2022, está em fase de expansão e projeta alcançar 100 mil toneladas anuais até 2031. Benone também enfatizou os benefícios agronômicos e climáticos do biochar, sua contribuição à fertilidade do solo e ao sequestro de carbono, e o impacto social positivo gerado por meio do programa Raízes do Vale, com aumento dos índices de desenvolvimento humano (IDH) nas comunidades vizinhas. Além de produzir, a Aperam também oferece a tecnologia para outras empresas brasileiras, reforçando sua liderança no setor.


O painel se encerrou com uma rica troca com o público, que reforçou o interesse crescente sobre as múltiplas possibilidades do biochar. Benone Braga destacou que essa tecnologia, embora amparada por inovação e patentes industriais, tem raízes ancestrais — sendo equivalente à “Terra Preta de Índio” utilizada por povos originários da Amazônia. Além de seu uso agrícola, ele mencionou aplicações promissoras como combustível em cimenteiras, misturas energéticas e injeção em alto-forno (PCI), aproveitando seu alto poder calorífico.




O painel Tracking LatAm’s Development: Certifications and Meeting Article 6 Criteria discutiu os caminhos para que projetos latino-americanos atendam aos critérios do Artigo 6 do Acordo de Paris, com foco em certificações e integração aos mercados globais. O Brasil foi apontado como potencial referência para a região nesse processo.


Cassio Souza (Verra) abordou como o padrão VCS (Verified Carbon Standard) pode apoiar projetos latino-americanos no cumprimento dos critérios do Artigo 6 do Acordo de Paris. Ele destacou a presença robusta da Verra na região — com mais de 300 projetos em 17 países — e reforçou os principais requisitos técnicos para certificação: adicionalidade, permanência, linha de base e engajamento de partes interessadas. Cassio também explicou como o VCS pode operar como plataforma confiável para geração e rastreamento de créditos dentro de mecanismos regulatórios, sendo aceito por países como Colômbia, África do Sul e por programas como a CORSIA. Encerrou enfatizando que o mercado voluntário já está ativo e pode ser uma base eficiente para implementação do Artigo 6, com destaque para o papel estratégico do Brasil como potencial fornecedor de ITMOs e hub de soluções climáticas de baixo custo.


Durante sua apresentação, Ricardo (Verifit) destacou o avanço do Brasil na implementação de sistemas de Monitoramento, Relato e Verificação (MRV) e o papel estratégico do país nos mercados de carbono, tanto voluntário quanto regulado. Apresentou dados que evidenciam os principais setores emissores nacionais e ressaltou o potencial brasileiro de liderar com soluções climáticas integradas à sua NDC. Abordou ainda a crescente valorização de projetos de remoção de carbono, a exigência por integridade e rastreabilidade, e os desafios institucionais para adequar-se ao Artigo 6 do Acordo de Paris. Reforçou que o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) está em construção, e que o Brasil pode transformar a crise climática em uma oportunidade econômica e social.


Remo Filleti (ICVCM) destacou a importância de fortalecer a integridade do mercado voluntário de carbono (VCM), posicionando o Brasil como protagonista nesse movimento. Apresentou os Core Carbon Principles (CCPs) — critérios que definem créditos de alta qualidade com base em governança, impacto climático real e benefícios socioambientais — e mostrou como esses princípios vêm sendo adotados por governos e instituições globais. Também detalhou as frentes de atuação do ICVCM, como avaliação de metodologias, engajamento com stakeholders e programas de melhoria contínua. Remo enfatizou que os CCPs são uma ferramenta estratégica para ampliar investimentos em soluções baseadas na natureza e inserir o Brasil como líder regional em um mercado de carbono íntegro, alinhado ao Acordo de Paris e pronto para atrair compradores internacionais.




No painel IRECS and understanding the cocktail of environmental products to help decarbonise businesses”, Luciano Figueredo (Instituto Totum) destacou o papel dos certificados I-REC(E) como instrumentos-chave na descarbonização empresarial, com foco na rastreabilidade da eletricidade renovável. O Brasil foi apontado como líder global na emissão desses certificados, com mais de 51 milhões de unidades emitidas em 2025, consolidando sua posição estratégica na transição energética. Luciano também apresentou o “cocktail” de ativos ambientais — como GAS-REC, créditos de remoção (CDR), SAFs e certificados associados a hidrogênio e biometano — que contribuem para transparência em relatórios corporativos (ESG/GHG).




Durante a apresentação Beyond decarbonisation: How Europe & Brazil can use renewable carbon to minimize emissions in hard-to-abate industries and achieve permanent carbon removal at scale, Philipp D. Hauser traçou um panorama estratégico sobre o papel do biochar e do biocarbono sustentável na descarbonização de setores industriais intensivos — como aço, silício e ferroligas — destacando seu potencial não só para mitigar emissões, mas para viabilizar remoções permanentes de carbono em escala, sobretudo por meio de tecnologias como biorrefinarias pirolíticas e BECCS. Defendeu que o Brasil tem potencial para liderar uma nova economia industrial climática, desde que invista em políticas públicas, inovação e valorização do uso sustentável das florestas. O Brasil, ao lado da Europa, pode cocriar padrões globais de sustentabilidade, governança e MRV, consolidando um mercado de carbono baseado em integridade e impacto real.




Assim Carbon Credit Markets conclui sua cobertura do evento Argus Latin America Carbon Conference.



A Argus Carbon é uma plataforma global de inteligência especializada em mercados de carbono, cobrindo tanto o mercado voluntário (VCM) quanto o regulado. Combinando tecnologia, conteúdo e personalização, a Argus Carbon atende profissionais que precisam de dados confiáveis, análises relevantes e suporte estratégico em tempo real.


2025 Argus Latin America Carbon Conference Day2
2025 Argus Latin America Carbon Conference Day2

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“Nothing in life is to be feared, it is only to be understood. Now is the time to understand more, so that we may fear less.”

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