Estas são as novidades de hoje de Dubai.
Metrô.
Algo que não é exclusivo dos Emirados Árabes Unidos, a maioria dos países do Oriente Médio tem sexta e sábado como fins de semana. Como hoje. Além do feriado nacional amanhã. Não nos lembramos de ter pegado um metrô tão lotado. Presumimos que também esteja relacionado com a carga extra de delegados da COP28. Ontem, em conferência de imprensa, Alexander Saier da UNFCCC informou o número de delegados, observadores, meios de comunicação e funcionários: 104 mil. Ou seja, habitantes temporários na cidade. (Agora percebo que os passes gratuitos de metrô não são apenas uma cortesia. Imaginem as filas nas bilheterias). Futuros organizadores da COP, atenção.
Antes de começarmos
Hoje passamos menos de uma hora no local da COP.
Em vez disso, aceitamos um convite do Wall Street Journal para um evento paralelo, o Journal House na COP28, bem organizado para networking em um espaço lindo, com vista para o Vida Yacht Club Dubai. Então, se você não gosta muito de finanças, talvez deva pular o próximo tópico e ir direto para Antes de encerrarmos o dia, onde adicionamos algumas referências. Por outro lado, você pode reconsiderar e ler nosso O dia no que se refere às opiniões e percepções de John Kerry e Mark Carney. Se você não se lembra quem eles são, continue lendo.
O dia.
O Vida Yacht Club Dubai é um local impressionante, com uma marina cercada por edifícios altos, iates e tradicionais barcos Dhow árabes indo e vindo. Nesse cenário, os seguintes painéis de discussão, entrevistados por Ken Brown, Bureau Chief, Climate and Financial Enterprise do The Wall Street Journal.
Climate and Investing by Mark Carney.
Mark Carney é atualmente presidente da Brookfield Asset Management. Ele ocupou uma série de cargos seniores no setor financeiro público e privado, entre eles ex-presidente do Banco da Inglaterra, Banco do Canadá e presidente do Financial Stability Board. Foi consultor financeiro da presidência do Reino Unido da COP26 em Glasgow, quando ajudou a lançar a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ).
Basicamente discutiu o caminho das oportunidades de investimento na transição energética, que requer disponibilidade de dados (“precisamos de medições”, talvez Bloomberg, ISSB), acesso a esses dados e ação.
Em termos de ação:
lembrou que em Glasgow nenhum banco participante já estava medindo sua pegada de carbono.
as energias renováveis representam um enorme potencial.
setores "hard to abate" necessitam de apoio financeiro especial.
apoio financeiro também tão necessário nos países em desenvolvimento.
e um dos principais, mencionado ontem pelo Príncipe Charles no COP28 Business & Philanthropy Climate Forum: blended finance.
Carney também mencionou o fundo ALTÉRRA de US$ 30 bilhões anunciado pelos Emirados Árabes Unidos, uma modalidade de investimento em equity. Este fundo visa mobilizar muito mais capital institucional e privado para a ação climática. Uma parcela de US$ 5 bilhões irá para um Fundo de Transformação - “first losses”, segundo Carney - “dedicado a incentivar fluxos de investimento para países em desenvolvimento para responder às necessidades críticas de investimento climático no Sul Global”, de acordo com o press release.
A Brookfield também prepara seu próprio fundo multibilionário.
Todos estes novos acordos nas finanças globais desafiam obviamente o sistema multilateral existente. O Banco Mundial foi mencionado. Por um lado, com estruturas tradicionais “difíceis de mudar”, por outro lado, com uma nova meta de desempenho: finanças sustentáveis… e reduções de emissões (na “indústria pesada, antes da tecnologia”).
Sobre o IRA, “bom ser amigo dos Estados Unidos”. É uma nova política industrial pragmática (apesar de ser referida como uma política climática).
Payback time. Mencionou também que existem algumas empresas de petróleo e gás que já “trabalham na transição, gastando 7-8% do seu capital”.
Concluindo, algumas de suas próprias palavras (mantivemos em inglês):
“We will all benefit from the efficiencies that come from the IRA.”
“I believe in the time value of carbon.”
“Recognition that the carbon markets, the carbon offset markets, has to work. With integrity.”
But “at 8 dollars per ton it will not work, considering the parallel situation of the stranded assets of coal, oil and gas.”
“Zero methane by 2030”.
“Hydrogen”.
“Finance is a catalyst. But like in chemistry, we need the right conditions.”
“What’s next? Action.”
Climate Goals and Global Cooperation by John Kerry.
John Kerry é um importante diplomata e enviado climático dos Estados Unidos à COP. Também foi secretário de Estado de Barack Obama. Ele completa 80 anos em poucos dias e continua muito ativo, tanto no setor público quanto no privado.
John começou respondendo uma pergunta sobre a China. “A China está consciente da crise climática”. Por outro lado, precisa de melhorar o seu NDC. “Vamos ver como trabalhar mais com eles”. (haverá reunião bilateral na COP28). “O que me dá esperança é que eles não são estáticos”.
Sobre o IRA para os Estados Unidos, “uma oportunidade econômica extraordinária. Maior que a Revolução Industrial. Todas as perspectivas industriais são novas. E nenhum político se atreverá a voltar atrás”.
Metano. "Grande problema. E cresce com o tempo. Vazamento, ventilação e queima”. Um Summit sobre Metano com a China e outra com a União Europeia em preparação. “Uma das maiores coisas que sairá desta COP. Já falei com o Sultão Ahmed Al-Jaber."
“As evidências que a Mãe Terra nos dá todos os dias começaram a assustar até os cientistas. Podemos ter ultrapassado o ponto de inflexão no que diz respeito aos pólos Norte e Sul, ao permafrost e aos recifes de coral”.
Banco Mundial. “A estrutura está aí. Precisamos ajudar. Eles precisam emprestar mais. Blended finance”.
Mercado Voluntário de Carbono. “Novo anúncio chegando. Nível de integridade muito alto. Temos de encontrar uma forma de envolver o setor privado. Nenhum governo é capaz. Os preços serão alterados com novas técnicas e tecnologias. Talvez hidrogênio. Fissão. Outro".
A propósito, “nenhum país está fazendo o suficiente. Não há CCS suficiente, não há hidrogénio suficiente… trata-se de acelerar e implementar a tecnologia que já temos”
Demanda. Citou diversas empresas conhecidas comprometidas em promover produtos melhores, do ponto de vista ambiental.
Quando questionado sobre os combustíveis fósseis "unbated" (referência à utilização de carvão, petróleo e gás sem esforços substanciais para reduzir as emissões produzidas ao longo do seu ciclo de vida), respondeu: “Sou guiado pela ciência”. Não fazer nada porque “o outro” não está fazendo não é o caminho. Cuidado com o Global Stocktake que está chegando. "Unbatable" não é desculpa”. “Talvez o CCUS seja muito caro. Não sei. Mas o mercado decidirá isso bem”.
Embora já indiquemos suas citações (traduzida acima), aqui estão as duas últimas (mantidas em inglês):
“We have much more ability now with Artificial Intelligence. To be ahead of the curve”.
“This is not a sacrifice. There is a better quality of life on the other side of this transition”.
Antes de encerrarmos o dia.
“Adaptation Finance Summit for Africa: Doubling Down for a Climate Resilient Africa”. Esse foi o único evento que participamos da COP28 hoje. Veja algumas notas na próxima parte Pessoas e paparazzi.
Conhecemos pessoalmente Suzanne Lynch, do portal POLITICO de Washington. Gostamos e admiramos a forma como ela escreve. Então, obviamente para complementar o nosso, aqui está um link para você assinar os posts diários dela também (aqui funcionou).
Pessoas e paparazzi.
Bill Gates veio sentar-se algumas filas à nossa frente (chegamos lá primeiro), de onde preparava seus anúncio$ relacionados com a África, expressando a necessidade de trabalharmos juntos (como a humanidade já fez em relação às vacinas), as preocupações com a desnutrição infantil e dizendo : “Não há razão para duplicar a produtividade dos grandes agricultores sem primeiro ajudar os pequenos”. Também conversou com Mark Rutte da Holanda, que poucos momentos depois dobrou o compromi$$o assumido em Glasgow (“honrado”). O primeiro-ministro holandês concluiu “As ações falam mais alto que as palavras. A ação gera confiança.” E o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron - mais uma vez - apareceu para comprimentá-los. Fora isso, ao caminhar pelo local da COP é preciso cada vez mais ficar atento para não ser atropelado por comitivas de presidentes e autoridades.
Our key takeaway
Conecte a demanda com a oferta. As necessidades climáticas das pessoas estão em primeiro lugar. Uma abordagem de baixo para cima. Mais empréstimos comerciais (e menos financiamento para adaptação). Os bancos podem não estar na melhor posição para mudar o modelo de negócio, especialmente nos países desenvolvidos (sic, o banqueira do CIB do Egito, no WSJ Journal House de hoje). Por último, mas não menos importante, anote ai: metano.
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